Estresse no Trabalho

1.1 Estresse no Trabalho

Atualmente, o perfil do trabalhador sofreu grandes alterações frente às novas tendências do século XX, sendo assim, é possível considerar não somente as condições higiênicas ou a segurança do trabalhador como fator decisivo, mas é necessário também considerar a importância das relações sociais e interpessoais dos indivíduos, fatores que influenciam e afetam de forma direta a saúde e quanto o trabalhador rende. Estas relações interpessoais e psicossociais podem ser consideradas pontos geradores do estresse nos ambientes organizacionais que está ligada diretamente à estrutura mental e corporal dos indivíduos, considerando, inclusive, o ritmo em que esses profissionais vivem dentro da rotina laboral, que podem ser grandes motivos causadores de inúmeras doenças emocionais que afetarão os aspectos profissionais, familiares, sociais e todas as pessoas a sua volta de um jeito ou de outro (LIPP, 2001).
O estresse ocupacional faz com o que o ritmo desses profissionais se mantenha sempre acelerado, mantido pelo desejo de realizar um trabalho excelente no tempo determinado de toda a demanda exigida em seu ofício, prejudicando não apenas a rotina do dia a dia, como também, o sono, resultando em noites mal dormidas, desestruturação do organismo. Dessa forma, eles correm riscos sérios de submeter-se a acidentes de trabalho, pondo como fator de importância máxima o descanso para um eficaz desempenho. Desta forma, foca o autoconhecimento como fator primordial, pois se trata de algo indispensável para a saúde, de forma que os colaboradores necessitem buscar maior companheirismo no trabalho em equipe, com o intuito de minimizar os efeitos negativos da superexposição às cobranças organizacionais (GAUDENCIO, 2009).
Rios (2008) afirma que o ser humano busca reconhecimento profissional e pessoal bem como prestígio, e não somente reconhecimento financeiro, além disso, afirma também que, é com o trabalho que as pessoas passam a construir um significado para sua própria existência, correndo atrás de seus objetivos e reconhecimento, se esquecendo de olhar para dentro de si mesmo, suas limitações, seu emocional, psíquico, físico, mental.
A descrição de sensações particulares em relação a questionamentos referentes as reais capacidades de transformação do ser humano exposto a tantas fragilidades orgânicas ou um ser em busca de transformações igualando-se às máquinas que não temem consequências dos males provenientes do excesso de trabalho e preocupações. Essa busca incessante pelo reconhecimento profissional e pessoal atinge milhões de trabalhadores de diversas áreas na saúde, engenharia, setores bancários e produtivos. Todos lutando pelo seu reconhecimento, e dessa forma ocasionando, pela intensidade, uma doença física e emocional. De acordo com estudos de Camelo Angerami (2008), o ambiente laboral produz consequências psíquicas e orgânicas devido às grandes exigências que os trabalhadores fazem de si mesmos, além do excesso de tarefas, longa jornada, gerando riscos psicológicos que levam ao estresse ocupacional.
Nos dias atuais, muitas empresas estão sendo afetadas por um descontrole do estresse organizacional que exerce grande influência na qualidade da atuação dos profissionais, gerando consequências de absenteísmo, além de afetar também a sua rotina familiar. Sendo assim, torna-se necessário pensar no desenvolvimento de algo que levante as necessidades desses trabalhadores, organizando um estudo diagnóstico a fim de buscar maior qualidade de vida e resolução de problemas nestes ambientes (LIPP, 2001).
Nos dias atuais o organismo humano sofre alterações em sua homeostase em ambientes ocupacionais onde o indivíduo deve manter o controle emocional, sendo impedido de reagir como antigamente. No entanto, o mesmo é acometido por estressores ambientais em maior nível hierárquico, devendo manter o controle emocional a fim de manter o emprego e o sustento da família. O organismo reflete, porém, com reações de consequências físicas e neurológicas. Como resposta a estes estímulos, provocando os desgastes conhecidos do estresse e suas reações em doenças (LIPP, 2001).
De acordo com Nascimento e Ferraz (2004), profissionais que possuem contatos interpessoais mais exigentes em suas ocupações são afetados por uma síndrome psicológica decorrente de uma tensão crônica com indicações de exaustão emocional em ambiente ocupacional, conhecida como Síndrome de “Burn Out”, fenômeno abordado pelo psiquiatra Herbert Freudenberger em 1974, fenômeno também estudado pela psicóloga social Christina Maslach.
Para Rios (2008), as pessoas que estão hoje atuando na área de saúde, são pessoas mais propensas a ficarem doentes, pois existe o acúmulo de atividades, horário de trabalho que na maioria excede o seu horário normal. A autora também cita outros fatores que influenciam para que esses profissionais adoeçam em seus ambientes de trabalhos, como, por exemplo, trabalhar diretamente com o sofrimento do outro, o não reconhecimento pelos seus colegas de trabalho, o acúmulo das atividades exercidas e baixas remunerações.
De acordo com Lacaz e Sato, 2006 apud Rios (2008 pg.17).
[...] apesar da importância desses aspectos, é cada vez mais evidente que a organização do trabalho e o modelo de gestão concentram os principais fatores psicossociais relativos ao ambiente de trabalho presentes no adoecimento dos trabalhadores da saúde.
 
Os riscos psicológicos identificados em estudos recentes mantêm ligações com choques culturais existentes em organizações, dificuldades de adaptação por parte de trabalhadores em determinadas funções e responsabilidades, conflitos relacionados às expectativas que trabalhadores carregam ao longo de planos de vida e carreira, conflitos de autonomia nas funções executadas e relações estabelecidas com colegas e gestores. A vida particular dos trabalhadores promove interferências diretas sobre o estresse em meio organizacional, especialmente no caso de mulheres que possuem filhos e se constituem no suporte financeiro de suas famílias, gerando excesso de responsabilidades (CAMELO, 2011).
O fortalecimento do trabalho de equipes multiprofissionais, a valorização dos profissionais, o reajuste no salário dos mesmos são fatores higiênicos importantes na minimização da quantidade de profissionais doentes ou afastados do ambiente de trabalho, considerando que este reconhecimento profissional poderá manter mais pessoas dispostas às atribuições e necessidades da empresa, realizando suas atividades com maior motivação e prazer (SPINOLA ET AL, 2003).
Para a promoção da saúde é fundamental a gestão das situações no ambiente de trabalho, sempre de forma coletiva, aprimorando assim a capacidade de analisar e compreender o próprio trabalho, criando espaços para o diálogo e o entendimento coletivo (BRASIL, 2004).
Melo; Cosenza (2006) menciona que um dos motivos básicos para o adoecimento de um funcionário normalmente ativo no ambiente de trabalho é o fator mulher-mãe-profissional. A mulher moderna está ocupando um espaço diferenciado em status social, quando, antigamente, seu papel se dava apenas em núcleo familiar. Hoje essa situação mudou significativamente e a mulher moderna alcançou novos espaços ocupacionais. Inclusive, a escolha de profissões e os cursos regulares e de extensão foram atualizadas nesta classe. Antigamente as profissões eram estabelecidas por sexo, porém, hoje a mulher ocupa cargos que fazem delas uma diferença no mercado de trabalho, surpreendendo espaços não esperados como direção de empresas, motoristas de ônibus, áreas da engenharia, assim como compõe a força de mão de obra lado a lado com o homem na área de produção, entre outras.
Ainda de acordo com Melo; Cosenza (2006), para que fossem possíveis tais mudanças, a mulher sofreu alterações em seu organismo e estrutura, unindo todas as atribuições diárias, o que, porém acarretou uma disfunção que gerou a necessidade de uma readaptação. A mulher, ao se aproximar de determinado momento de sua existência, passa a se reorganizar de acordo com suas possibilidades, consequentemente idealizando escolhas que podem estar baseadas em aquisição de bens materiais ou formação familiar. A mulher moderna, ao se deparar com as novas exigências de formação familiar, recebe novas cargas e responsabilidades opostas aos costumes rotineiros, situação comum no caso de mães que retornam após afastamento de maternidade, as quais passam a demonstrar maiores sinais de desmotivação e de estresse nas relações em geral.
Os resultados mais frequentes se notam no aumento da proporção de mulheres apresentando sentimentos nocivos de culpabilidade por não mais apresentarem os mesmos resultados profissionais, devido ao acúmulo de novas responsabilidades e às consequências de um novo contexto (MELO; COSENZA, 2006).
Ainda é necessário considerar fatores de concorrência organizacional de acordo com os sexos, onde, historicamente, a mulher busca maior desenvolvimento profissional, possuindo uma essência relativamente diferenciada na classe feminina que ainda mantém o papel de mãe de família, inclusive oferecendo resultados diferentes e, em alguns casos, superior aos resultados masculinos (MELO; COSENZA, 2006).
De fato, a mulher moderna vem conquistando e ampliando espaços de atuação e, consequentemente, provocando alterações nas relações familiares, nas visões organizacionais, nas responsabilidades domésticas, assim como em todas as áreas nas quais se envolve, demonstrando as mudanças rápidas no desenvolvimento da espécie feminina (MELO; COSENZA, 2006).

1.2 Mulher e Trabalho ao Longo da História

A inserção da mulher no mercado de trabalho se deu após muita luta feminista pela igualdade entre os sexos, tendo em vista que antigamente o homem era visto como provedor do lar, logo a mulher não precisava trabalhar (PROBST, 2003).
A caminhada feminina foi marcada por uma luta sacrificada, com grandes preconceitos e discriminações, mas que, em contrapartida, vem se transformando e consolidando. Historicamente a revolução feminista trouxe louros para a classe no âmbito profissional, porém nesta busca da independência e reconhecimento algumas sobras aconteceram em torno do estresse, fadiga e exaustão (DEL PRIORE, 2000).
Essa inserção surge da necessidade econômica da mulher em contribuir no orçamento familiar, além do significativo aumento do nível de escolaridade das mulheres e a diminuição de barreiras culturais ao seu ingresso no ambiente organizacional. As mulheres, casadas ou não, procuram disputar mais o seu lugar no mercado de trabalho (NETO, TANURE e ANDRADE, 2010).
A estrutura econômica de cada país também teve influência: as mulheres foram historicamente forçadas a integrar o exército da reserva de mão de obra, um movimento que se iniciou com as I e II Guerras Mundiais em que as mulheres tiveram que assumir a posição dos homens no mercado de trabalho. (NETO, TANURE e ANDRADE, 2010) e passaram a liderar um movimento feminista com características políticas (PROBST, 2003).
Os homens iam para a guerra e as mulheres assumiam os negócios da família, e, consequentemente, a posição de seus maridos no mercado. Quando a guerra acabou, muitos homens haviam morrido e muitos dos que sobreviveram, ficaram impossibilitados de trabalhar, pois tinham sido mutilados. Dessa forma, houve a necessidade de as mulheres deixarem suas casas e filhos e passarem a fazer o trabalho que antes era realizado pelos homens (PROBST, 2003, p. 2).
Ainda de acordo com a autora, foi devido à necessidade de sustentar a família, no pós guerra, que as mulheres começaram a fazer parte do mundo do trabalho. Porém, seu trabalho não tinha valor e não era aceito pela sociedade:
[...] As que ficavam viúvas, ou eram de uma elite empobrecida, e precisam se virar para se sustentar e aos filhos, faziam doces por encomendas, arranjo de flores, bordados e crivos, davam aulas de piano etc. Mas além de pouco valorizadas, essas atividades eram mal vistas pela sociedade. (PROBST, 2003, p. 1).
 
A partir da década de 70, as mulheres foram conquistando um espaço maior no mercado de trabalho. A sociedade passa a apostar nos valores femininos como algo mais vantajoso que o trabalho masculino (PROBST, 2003).
Ainda de acordo com a autora, percebeu-se que as mulheres trabalham mais em equipe, possuindo cooperação no lugar da competição. Com o avanço tecnológico e o surgimento de novas máquinas, levanta-se a necessidade de transferirem as mulheres para as fábricas, ou seja, grande parte da mão de obra passa a ser feminina (PROBST, 2003).
A partir disso, as mulheres passam a ser beneficiadas também por algumas leis que foram criadas especificamente para elas. Dentre essas leis, destacam-se as seguintes proibições: trabalho feminino durante as madrugadas, mulheres gestantes próximas à data de parto e a demissão de mulheres grávidas (PROBST, 2003).
[...] algumas leis passaram a beneficiar as mulheres. Ficou estabelecido na Constituição de 32 que “sem distinção de sexo, a todo trabalho de igual valor correspondente salário igual; veda-se o trabalho feminino das 22 horas às 5 da manhã; é proibido o trabalho da mulher grávida durante o período de quatro semanas antes do parto e quatro semanas depois; é proibido despedir mulher grávida pelo simples fato da gravidez” (PROBST, 2003, p.2).
 
As explicações para a grande participação das mulheres no ambiente organizacional também se dá ao fato de sua emancipação, independência financeira e à necessidade de complementar a renda familiar (GOMES, SANTANA e SILVA, 2005).
[...] Até muito recentemente o trabalho das mulheres teve, em relação ao dos homens, um caráter complementar na sustentação da família, fazendo com que sua inserção fosse intermitente, em atividades de baixa qualificação e com consequente baixa remuneração. (AQUINO, MENEZES e MARINHO, 1995, p. 2).
 
Mesmo com essas conquistas, muitas formas de exploração perduraram durante anos, como extensas jornadas e diferenças salariais. Para as diferenças salariais, tinha-se como justificativa o fato de que o homem sustentava a casa e, sendo assim, não havia a necessidade da esposa ganhar mais (PROBST, 2003).
A década de 90 foi marcada pela grande participação das mulheres e aumento das responsabilidades no comando de suas famílias.
Ao longo da história, as mulheres conseguiram fortalecer a sua participação no mercado de trabalho, conseguindo também aumentar seu poder aquisitivo e sua escolaridade, além de reduzir a defasagem salarial comparada aos homens (PROBST, 2003).
Apesar de todas as conquistas ainda deparamos (em escala menor) com preconceitos que permeiam o ambiente de trabalho da mulher. O processo é lento, porém sólido:
[...] O fenômeno ainda é lento, mas constante e progressivo. Em 1973, apenas 30,9% da População Economicamente Ativa (PEA) do Brasil era do sexo feminino. Segundo os dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD), em 1999, elas já representavam 41,4% do total da força de trabalho. Um exército de aproximadamente 33 milhões. Em Santa Catarina, elas ocupavam 36,7% das vagas existentes em 1997. Quatro anos depois, em 2000, mais 62 mil mulheres ingressaram pela primeira vez no mercado, aumentando a participação em 1,1 ponto percentual (PROBST, 2003, p.5).
 
Os desafios e as conquistas femininas se multiplicam com o passar dos anos. E hoje grande parte das mulheres ainda são tratadas com desigualdade, pois nota-se que os salários não acompanham esta conquista. As mulheres de hoje têm menos filhos que nos dias de ontem, o que contribui para facilitar a mão de obra feminina no mercado de trabalho, além da mulher poder conciliar melhor o papel de mãe e trabalhadora (PROBST, 2003).
A mulher atual tem um perfil completamente diferente daquelas que trabalhavam na era industrial em linhas de produção. As mulheres se preocuparam mais em estudar que os homens, facilitando sua participação no mercado de trabalho, até mesmo em cargos de gerência (PROBST, 2003). Em contrapartida, acumulam tarefas: mãe, esposa e dona de casa.
Segundo pesquisas, não há cargos que hoje a mulher não possa ocupar, já provaram serem competentes tanto ou mais que os homens (ASSIS, 2009). Nesse contexto, verificam-se muitas mulheres em cargos de liderança que subiram por seus méritos, estes, avaliados igualmente entre os homens.
[...] Como principais características no perfil de liderança feminino, pode ser destacada a sensibilidade, a intuição, a organização, a flexibilidade, o detalhismo, a tranquilidade, etc. Entretanto, o que mais chama a atenção para a forma de liderança da mulher é a grande preocupação com o indivíduo, ou seja, há uma forte transparência com seus colaboradores. A mulher busca a satisfação de todos os envolvidos na organização, compartilhando as informações e abrindo espaço para que os colaboradores compartilhem suas opiniões, reforçando assim, a valorização do indivíduo (ASSIS, 2009, p. 14).
 


Fonte:http://psicologado.com/atuacao/psicologia-organizacional/a-doenca-do-seculo-estresse-ocupacional-na-mulher-moderna#ixzz3AoGEiR00
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